O telefone toca. Ela atende, e uma conversa estranha e conturbada se segue. Uma discussão. Pronto, resolvido e o 'tudo bem'. Ela desligada, entra para o banheiro liga o chuveiro e verifica a temperatura da água. Espera mais um pouco, se olha no espelho e não se vê. Um olhar que um dia era brilhante e o sorriso que chegava nele ali não está, o que tem nele é um fosco e nada de alegria ou contentamento. Em baixo dele marcas de quem não descansa ou não dorme bem há dias, olheiras roxas que a menina nunca tivera. Um sorriso forçado e nem ele brilhou, muito menos os olhos. Ondas arrasadoras tomaram a cabeça dela, aquela dor em seu peito se mexeu e ela abaixou a cabeça. Lágrimas lhe escorriam dos olhos e ali começara uma crise de choro que parecia ser interminável. Levantou a cabeça e encarou-se mais uma vez em frente ao espelho e repetia para si: ' Eu sou forte, eu consigo. Já passei por dores maiores. Eu consigo. Foco, força e fé. ' Não, ela não acreditou e chorou. Aquilo doía, cada lágrima que saia dos seus olhos doíam, e sua cabeça que estava sofrendo uma enxaqueca já fazia dias e dias doía mais ainda. Foi caindo lentamente no chão daquele banheiro pequeno e chorou. Sua mão tocou o a água que caia chuveiro que já estava aberto faziam alguns minutos. Ela entrou de roupa e tudo naquela água que era a coisa mais acolhedora que tinha encontrado faziam dias e mais uma vez chorou. A água quente e envolvente foi lhe tomando o corpo, molhando dos pés a cabeça. A menina foi tirando a roupa devagar. Primeiro o moletom do frajola, depois a blusa do pijama, o short e as peças íntimas, agora aquela água quente e acolhedora envolveu-a por um todo. E a crise de choro perdurava, seus músculos da barriga e das costas doíam, sua cabeça também. A água continuava a bater nas costas dela e sua cabeça na parede, sentimentos que tinham sido guardados para horas exatas ali ardendo e sendo colocados no limite. Mas ela já não tinha mais força e foi caindo lentamente. Estava sozinha, sentia-se sozinha quase que impossibilidade de sair daquela posição. Joelhos no queixo, braços segurando o tórax, porque parecia que ele iria romper e as vísceras dela cairiam ali e ficariam expostas para quem quisesse ver. E ela se sentia sozinha, abandonada, cansada de ser segunda opção e precisava de alguém qualquer um que a ajudasse, que fosse capaz de ir ali e tirá-la daquele estado. Ninguém. Ninguém estava ali, ninguém iria aparecer e parecia que ninguém se importava. Ela estava sozinha. E ela não queria ajuda.
Aquilo doeu, e ela resolveu levantar. "Não, não posso ficar assim. Sou mais forte que isso não posso", e repetia para si quase num sussurro de voz embargada. Mas ela ficou e ela estava. A solidão companheira fiel estava instalada ali. "Vê? Você está sozinha garota. Não tem ninguém. Pára de ser boba e se preocupar com os outros. Pára de fazer com eles o que eles não fariam por você. Por isso é segunda opção sempre. Pára." a solidão lhe falara aos berros. A menina não ouvia, as ondas que estavam na sua cabeça eram mais altas, e ela já não sabia o que fazer. Decidiu acabar de vez com alguns sentimentos e atitude. Era isso. Ela resolveu o que precisava ser feito e iria fazer, não importando qual preço. Desligou o chuveiro, não pegou a toalha e foi para o espelho, limpou e se olhou com uma cara que transbordada uma certa determinação olhou e disse: 'Tudo passa.".E com aquilo não seria diferente.

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