quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Olhe para sua frente, saiba caminhar.

Ela saiu por aí. Sem destino, andando e olhando cada rosto que passava por ela e nenhum deles era conhecido, tentou guardá-los em sua memória e encher sua cabeça, que estava anuvia, com essas bobagens do trajeto. Observou pássaros, árvores, pedrinhas de construção, terra, lama, água, uma folha caindo da árvore tão lenta e tão em paz, animais, carros, prédios em construção e caiu em si. Sentiu dor, mas não dor psicológica, física. Suas pernas queimavam, suas costas ardiam e ela veio em si e percebeu que estava longe de casa com uma mochila pesada e cansada. Desejou sentar ali mesmo, no meio fio daquele lugar que hoje era qualquer. Não o fez, com a cara péssima que estava capaz de receber esmolas dos que passavam pela avenida. Colocou a mão no bolso: três chaves, dois bichinhos que a fazem sorrir e quatro moedas que juntas somavam R$ 0,80, o que com certeza não era o suficiente para voltar pra casa. Apalpou a mochila e desejou que tivesse mais dinheiro por ali e nada. Resolveu andar mais um pouco, e foi. Voltou ao estado desligado para si e o mundo passava depressa e ela olhava tudo que passava, era rápido mais a cabeça dela processava aquele dia devagar. Lentamente, tentando absorver o máximo. Carros, buzinas e mais pessoas, prédios concluídos e sirenes. O cenário mudará, já não tinha tanta paz com aquele caos urbano. Os fones que antes só cantarolavam baixinho parecendo música de fundo, como se estivesse na sala de um dentista, agora era uma música pesada com guitarras, berros e a bateria estrondosa. Mas os pensamentos ainda estavam ali, escondidos e ela desligava-se para eles, como quem não se importa. Passou no banco, encontrou uma colega. Esta lhe mudará o humor e aos poucos foi ligando-a pois a mesma não parava de tagarelar. Monossilabicamente ela tentava acompanhar aquilo tudo, e as palavras estavam lhe fazendo mal. Começou, a dor lhe veio e quis penetrar, perturbar, arranhar, e fazer sangrar. Ela ainda não se deixava atingir por aquilo que a corroía, e começou a prestar mais atenção as coisas ao redor. Saiu dali com sua colega e foram, andaram, conversaram, riram de coisas bobas, compraram e se despediram. Ela entrou, finalmente, na condução que a levaria para casa. Hoje em especial o caminho foi rápido e silencioso. Sem carros, pessoas, cães, gatos, ondas do mar. Só o freio que chiava a cada sinal de um novo passageiro. Ou era só isso que conseguia entrar agora nos seus pensamentos tão espessos e doloridos. Chegara. Finalmente estava no seu lugar. A primeira coisa foi acender o incenso que comprou e o aroma tomou o lugar. Um sorriso de canto da boca apareceu. Foi para o banho, e hoje em especial a água fazia muito barulho, aquilo a distraiu mas a dor continuava pesando e ferindo, fazia sangrar. Os minutos passaram e a água ainda lhe batia nas costas. Ela por fim deixou os pensamentos invadirem sua cabeça como búfalos selvagens correndo do disparo do caçador e invadiram sem pena, não foi sutil e nada lento. Arrebentaram com suas estruturas e pronto. Ela se calou, fechou a água e saiu engolindo o choro. Colocou uma roupa e com coragem ligou o computador. Notícias e bobagens. Nada foi o suficiente novamente para distrair. Nada. Até que o telefone toca. Um nome. Uma frase. Doze letras.  Aquilo mudou sua noite e a dor se esvaiu e diante do que foi lido se guardou. E por fim a menina vai descansar. Em paz? Não, em poucas horas tudo outra vez. 

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